Federação das Escolas Waldorf no Brasil

BRASILIDADES

Esta é uma publicação inédita que reúne trabalhos de professores e alunos de classe idealizada por Luiza Lameirão com a colaboração de Mariana Bugano. São textos produzidos por educadores de diferentes escolas e com experiências diversas no trato com a linguagem. Tal variedade dá testemunho desta característica própria do nosso país em que fala o Português com sotaques e contrastes tão variados e amplos quanto a dimensão de seu território. Para a FEWB esta coletânea lança olhar relevante e valoriza a produção de professores brasileiros trazendo temas e formas de trabalho sobre a literatura nacional.

Grupo de Estudos Pindorama

INTRODUÇÃO

O cultivo da alma brasileira, desenvolvido por Susanne Rotermund, traz algumas reflexões, sugestões e observações tendo em vista a introdução desse cultivo na prática pedagógica, especialmente para a Pedagogia Waldorf, cuja riqueza do currículo permite uma ampla e diversificada aplicação desse cultivo.
Principalmente por estarem divididas de acordo com as características relacionadas aos setênios da biografia humana fundamentados na Antroposofia, as atividades aqui expostas podem se adaptar perfeitamente às especificidades do currículo Waldorf. Trata-se de uma breve exposição, visto que não se pretende criar um "modelo", mas sim compartilhar elementos que podem servir de inspiração e incentivo aos educadores.
Da mesma forma, pelo fato de estarem indicados os "setênios", isso não significa que aquele conteúdo seja específico e restrito àquele setênio, mas são temas que se entrelaçam, considerando apenas que o tema indicado ressaltado é parte fundamental daquele setênio.
O desenho abaixo pode ilustrar melhor essa relação.

Primeiro setênio
Para o primeiro setênio, quando a criança está descobrindo o mundo, Susanne lembra que se pode observar e principalmente conviver com a natureza durante o ciclo do ano e isso envolve:
Natureza durante o ciclo do ano
-a fauna e flora típica de cada região com cores, sons e cheiros no decorrer do ano;
-a atmosfera com o tempo, as cores e a luminosidade, os ventos e nuvens, luz e escuridão, tipos de nasceres e pores do sol;
- os elementos e seres elementares;
-o ritmo do dia e da noite, das estações do ano;
-os ciclos das plantações e outras atividades que envolvem a atividade humana na natureza (ex. plantação de milho, pesca) e tradições ligadas e estes.

Segundo Setênio
O segundo setênio marca a fase em que na criança começa o despertar da vontade de aprender e conhecer cada vez mais do mundo. O currículo da Pedagogia Waldorf busca preencher essa vontade gradativamente, respeitando os estágios de maturidade do aluno. Em todos os anos do Ensino Fundamental as manifestações culturais brasileiras (materiais e imateriais) representam um rico material para serem inseridos de forma interdisciplinar e em praticamente todas as matérias.
Susanne apresenta como um bom material para esse setênio, as manifestações culturais. Nesse sentido, para quem está familiarizado com esse assunto, ela ressalta a possibilidade de o professor ter em mente o fato de a Terra ser um organismo vivo, com a atuação dos arcanjos que governam cada estação do ano, atuando em conjunto, assim como a fundamentação do trabalho estar permeada pelo impulso crístico.
Vejamos:
Manifestações culturais
Há inúmeras tradições (danças e folguedos, músicas e brincadeiras, artesanato, formas de comemorar as festas, pratos típicos etc.) em todas as regiões brasileiras. Podemos imaginar que elas tenham alguma relação com a atuação dos arcanjos ao longo das estações do ano.

A atuação dos arcanjos nas estações do ano como inspiração para a vida cultural
As estações do ano são a respiração da terra, é a expressão anímica da terra.
Em "As Festas Anuais nos Hemisférios Norte e Sul" Evelyn Francis Capel descreve que assim como a vida anímica de cada ser humano é acompanhada por seu anjo, a vida anímica da Terra é acompanhada e guiada por quatro arcanjos que exercem suas tarefas ao redor da terra, cada um responsável por uma estação. Quando se encontram em cima da região atuam para dentro dos corações humanos como impulsos morais, inspirando sabedoria. Quando se encontram no hemisfério oposto atuam "de baixo" para dentro da constituição humana. À noite a alma humana vivencia este atuar em imagens. Podemos imaginar que estas imagens inspiradoras influenciam de alguma maneira as expressões culturais de cada região.

Inverno: Gabriel atua de cima, prometendo que a luz celestial irá nascer novamente na Terra. Uriel atua de baixo, proporcionando vitalidade para as forças do pensar.
Primavera: Rafael atua de cima, trazendo forças sanativas para dentro da natureza doente do ser humano. Micael, de baixo, renova as forças do movimento nos membros humanos.
Verão: Uriel, de cima, lembra da origem divina para inspirar pensamentos e ações humanos. Gabriel, de baixo, renova a habilidade de digerir, de se nutrir.
Outono: de cima, Micael inspira coragem e força para superar as tentações, para ter discernimento entre o bem e o mal. Rafael, de baixo, estimula as forças curativas na constituição humana.

Impulso crístico

Cristo, como espírito solar, tendo nascido, morrido e ressuscitado, trouxe luz para a escuridão de toda a terra, transcendendo norte, sul, leste e oeste, todas as raças, nações, sexos e todas as pessoas diferentes. Toda a terra com todas as suas regiões e povos se tornou então um templo do Sol. Portanto o impulso crístico pode ser encontrado em todo lugar, independente de estação do ano e região em toda a natureza, em toda cultura, independente de religião e contato com o cristianismo histórico em cada povo que busca uma relação com este espírito solar,o "Senhor dos Elementos", como muitos povos o chamam.

Terceiro Setênio

No terceiro setênio, quando o jovem inicia o movimento em direção a procurar saber qual o seu lugar nesse mundo, ele também já começa a se confrontar e a questionar como ele se relaciona com as coisas do mundo. Para esse setênio, Susanne sugere elementos ligados à História, que podem servir para pesquisa, reflexão e desenvolvimento dos temas.

Historia

A história do Brasil provocou uma série de carmas coletivos e existem diversas formas de resgate cármico. Segundo Wesley Aragão de Moraes2:
1- O Carma do Genocídio Indígena
2- O Carma da Escravidão Africana
3- O Carma da Colonização
4- O Carma da falta de Ética
5- O Carma da desigualdade e da pobreza
6- O Carma da Devastação das Florestas
7- O Carma da crueldade com os animais

Formas de Resgate do Carma Coletivo

Pelo Sofrimento (Carma)
1- Cadeias de violência, dor e sofrimento
2- Pobreza, fome, epidemias, desastres coletivos

Pela Consciência (Dharma)
3- Restauração voluntária do mal feito
4- Reavaliação e Reformulação das atitudes

Wesley relaciona as correntes esotéricas Rosacruz e Mani que atuam no mundo moderno da seguinte forma:
"A cura do hemisfério norte é o impulso Rosacruz, que mostra a sabedoria do espírito acima e dentro da matéria. A espiritualidade Rosacruz pode quebrar a dureza de alma ahrimâmica materialista nortista.
Para o hemisfério sul, o impulso de Mani mostra harmonia fraterna entre diferentes etnias, evoca o feminino e a compaixão.
Rosacruz e Mani se completam, a espiritualidade universal e a fraternidade entre os diferentes."
Ainda segundo Wesley podemos encontrar o impulso de Mani no Brasil na mistura das raças e povos e a tolerância entre estes. "Mani ensinou a harmonia entre os diferentes povos e caminhos."

Bibliografia
CAPEL, Evelyn Francis. As Festas Anuais nos Hemisférios Norte e Sul, Floris Book- Escócia/Comunidade de Cristãos de Botucatu, 2003.
D´ÁVILA, Aglaé. Danças e Folguedos, Fontes de Alencar, 2003
HERRERO, Marina & FERNANDES, Ulysses. Jogos e Brincadeiras na cultura Kalapalo, edições SESC SP, 2010
Moraes, Wesley Aragão de. Alma Brasileira, São Paulo: Barany Editora, 2014
Steiner, Rudolf. A missão das almas dos povos, São Paulo: editora Antroposófica, 1986.
Grupo Pindorama, A missão das Américas no século XXI, registro do congresso Pan-Americano Antroposófico de 2014, São Paulo: Barany Editora, 2014.
Grupo Pindorama, Na procura da alma do povo brasileiro, São Paulo: Barany Editora, 2014.
Revista Brasileira de Geografia, Tipos e Aspectos no Brasil
Site: http://pindorama.art.br

Notas:
1 Susanne Rotermund é Terapeuta Social, especializada em artes, docente na área artística em várias formações antroposóficas. Trabalhou muitos anos na Associação Comunitária Monte Azul e mora atualmente em Curitiba, atuando na Associação Ita Wegman com crianças traumatizadas.
2 Wesley Aragão de Moraes é médico formado pela UFJF, Juiz de Fora (MG). Médico antroposófico, mestre em Ciência da Religião pela UFJF; doutor em Antropologia pelo Museu Nacional UFJF, docente em cursos de antroposofia e medicina há vários anos. Autor de diversos livros, etnobotânico e artista plástico.




BRASILIDADES Esta é uma publicação inédita que reúne trabalhos de professores e alunos de classe idealizada por Luiza Lameirão com a colaboração de Mariana Bugano. São textos produzidos por educadores de diferentes escolas e com experiências diversas no trato com a linguagem. Tal variedade dá testemunho desta característica própria do nosso país em que fala o Português com sotaques e contrastes tão variados e amplos quanto a dimensão de seu território. Para a FEWB esta coletânea lança olhar relevante e valoriza a produção de professores brasileiros trazendo temas e formas de trabalho sobre a literatura nacional. Grupo de Estudos Pindorama INTRODUÇÃO O cultivo da alma brasileira, desenvolvido por Susanne Rotermund, traz algumas reflexões, sugestões e observações tendo em vista a introdução desse cultivo na prática pedagógica, especialmente para a Pedagogia Waldorf, cuja riqueza do currículo permite uma ampla e diversificada aplicação desse cultivo. Principalmente por estarem divididas de acordo com as características relacionadas aos setênios da biografia humana fundamentados na Antroposofia, as atividades aqui expostas podem se adaptar perfeitamente às especificidades do currículo Waldorf. Trata-se de uma breve exposição, visto que não se pretende criar um "modelo", mas sim compartilhar elementos que podem servir de inspiração e incentivo aos educadores. Da mesma forma, pelo fato de estarem indicados os "setênios", isso não significa que aquele conteúdo seja específico e restrito àquele setênio, mas são temas que se entrelaçam, considerando apenas que o tema indicado ressaltado é parte fundamental daquele setênio. O desenho abaixo pode ilustrar melhor essa relação. Primeiro setênio Para o primeiro setênio, quando a criança está descobrindo o mundo, Susanne lembra que se pode observar e principalmente conviver com a natureza durante o ciclo do ano e isso envolve: Natureza durante o ciclo do ano -a fauna e flora típica de cada região com cores, sons e cheiros no decorrer do ano; -a atmosfera com o tempo, as cores e a luminosidade, os ventos e nuvens, luz e escuridão, tipos de nasceres e pores do sol; - os elementos e seres elementares; -o ritmo do dia e da noite, das estações do ano; -os ciclos das plantações e outras atividades que envolvem a atividade humana na natureza (ex. plantação de milho, pesca) e tradições ligadas e estes. Segundo Setênio O segundo setênio marca a fase em que na criança começa o despertar da vontade de aprender e conhecer cada vez mais do mundo. O currículo da Pedagogia Waldorf busca preencher essa vontade gradativamente, respeitando os estágios de maturidade do aluno. Em todos os anos do Ensino Fundamental as manifestações culturais brasileiras (materiais e imateriais) representam um rico material para serem inseridos de forma interdisciplinar e em praticamente todas as matérias. Susanne apresenta como um bom material para esse setênio, as manifestações culturais. Nesse sentido, para quem está familiarizado com esse assunto, ela ressalta a possibilidade de o professor ter em mente o fato de a Terra ser um organismo vivo, com a atuação dos arcanjos que governam cada estação do ano, atuando em conjunto, assim como a fundamentação do trabalho estar permeada pelo impulso crístico. Vejamos: Manifestações culturais Há inúmeras tradições (danças e folguedos, músicas e brincadeiras, artesanato, formas de comemorar as festas, pratos típicos etc.) em todas as regiões brasileiras. Podemos imaginar que elas tenham alguma relação com a atuação dos arcanjos ao longo das estações do ano. A atuação dos arcanjos nas estações do ano como inspiração para a vida cultural As estações do ano são a respiração da terra, é a expressão anímica da terra. Em "As Festas Anuais nos Hemisférios Norte e Sul" Evelyn Francis Capel descreve que assim como a vida anímica de cada ser humano é acompanhada por seu anjo, a vida anímica da Terra é acompanhada e guiada por quatro arcanjos que exercem suas tarefas ao redor da terra, cada um responsável por uma estação. Quando se encontram em cima da região atuam para dentro dos corações humanos como impulsos morais, inspirando sabedoria. Quando se encontram no hemisfério oposto atuam "de baixo" para dentro da constituição humana. À noite a alma humana vivencia este atuar em imagens. Podemos imaginar que estas imagens inspiradoras influenciam de alguma maneira as expressões culturais de cada região. Inverno: Gabriel atua de cima, prometendo que a luz celestial irá nascer novamente na Terra. Uriel atua de baixo, proporcionando vitalidade para as forças do pensar. Primavera: Rafael atua de cima, trazendo forças sanativas para dentro da natureza doente do ser humano. Micael, de baixo, renova as forças do movimento nos membros humanos. Verão: Uriel, de cima, lembra da origem divina para inspirar pensamentos e ações humanos. Gabriel, de baixo, renova a habilidade de digerir, de se nutrir. Outono: de cima, Micael inspira coragem e força para superar as tentações, para ter discernimento entre o bem e o mal. Rafael, de baixo, estimula as forças curativas na constituição humana. Impulso crístico Cristo, como espírito solar, tendo nascido, morrido e ressuscitado, trouxe luz para a escuridão de toda a terra, transcendendo norte, sul, leste e oeste, todas as raças, nações, sexos e todas as pessoas diferentes. Toda a terra com todas as suas regiões e povos se tornou então um templo do Sol. Portanto o impulso crístico pode ser encontrado em todo lugar, independente de estação do ano e região em toda a natureza, em toda cultura, independente de religião e contato com o cristianismo histórico em cada povo que busca uma relação com este espírito solar,o "Senhor dos Elementos", como muitos povos o chamam. Terceiro Setênio No terceiro setênio, quando o jovem inicia o movimento em direção a procurar saber qual o seu lugar nesse mundo, ele também já começa a se confrontar e a questionar como ele se relaciona com as coisas do mundo. Para esse setênio, Susanne sugere elementos ligados à História, que podem servir para pesquisa, reflexão e desenvolvimento dos temas. Historia A história do Brasil provocou uma série de carmas coletivos e existem diversas formas de resgate cármico. Segundo Wesley Aragão de Moraes2: 1- O Carma do Genocídio Indígena 2- O Carma da Escravidão Africana 3- O Carma da Colonização 4- O Carma da falta de Ética 5- O Carma da desigualdade e da pobreza 6- O Carma da Devastação das Florestas 7- O Carma da crueldade com os animais Formas de Resgate do Carma Coletivo Pelo Sofrimento (Carma) 1- Cadeias de violência, dor e sofrimento 2- Pobreza, fome, epidemias, desastres coletivos Pela Consciência (Dharma) 3- Restauração voluntária do mal feito 4- Reavaliação e Reformulação das atitudes Wesley relaciona as correntes esotéricas Rosacruz e Mani que atuam no mundo moderno da seguinte forma: "A cura do hemisfério norte é o impulso Rosacruz, que mostra a sabedoria do espírito acima e dentro da matéria. A espiritualidade Rosacruz pode quebrar a dureza de alma ahrimâmica materialista nortista. Para o hemisfério sul, o impulso de Mani mostra harmonia fraterna entre diferentes etnias, evoca o feminino e a compaixão. Rosacruz e Mani se completam, a espiritualidade universal e a fraternidade entre os diferentes." Ainda segundo Wesley podemos encontrar o impulso de Mani no Brasil na mistura das raças e povos e a tolerância entre estes. "Mani ensinou a harmonia entre os diferentes povos e caminhos." Bibliografia CAPEL, Evelyn Francis. As Festas Anuais nos Hemisférios Norte e Sul, Floris Book- Escócia/Comunidade de Cristãos de Botucatu, 2003. D´ÁVILA, Aglaé. Danças e Folguedos, Fontes de Alencar, 2003 HERRERO, Marina & FERNANDES, Ulysses. Jogos e Brincadeiras na cultura Kalapalo, edições SESC SP, 2010 Moraes, Wesley Aragão de. Alma Brasileira, São Paulo: Barany Editora, 2014 Steiner, Rudolf. A missão das almas dos povos, São Paulo: editora Antroposófica, 1986. Grupo Pindorama, A missão das Américas no século XXI, registro do congresso Pan-Americano Antroposófico de 2014, São Paulo: Barany Editora, 2014. Grupo Pindorama, Na procura da alma do povo brasileiro, São Paulo: Barany Editora, 2014. Revista Brasileira de Geografia, Tipos e Aspectos no Brasil Site: http://pindorama.art.br Notas: 1 Susanne Rotermund é Terapeuta Social, especializada em artes, docente na área artística em várias formações antroposóficas. Trabalhou muitos anos na Associação Comunitária Monte Azul e mora atualmente em Curitiba, atuando na Associação Ita Wegman com crianças traumatizadas. 2 Wesley Aragão de Moraes é médico formado pela UFJF, Juiz de Fora (MG). Médico antroposófico, mestre em Ciência da Religião pela UFJF; doutor em Antropologia pelo Museu Nacional UFJF, docente em cursos de antroposofia e medicina há vários anos. Autor de diversos livros, etnobotânico e artista plástico.