Bem vindos!

Este pretende ser um espaço de troca, de encontro, de cruzamento, de construção e de reflexão permanente a respeito de ações voltadas às Brasilidades à luz da Antroposofia. Por se destinar àquilo que a palavra re–conhecimento significa em seu sentido primeiro - tornar conhecido ou tomar consciência -, este nosso ambiente virtual é destinado a pesquisadores, professores, estudiosos (acadêmicos ou não) e mestres da cultura popular, bem como suas vivências, pesquisas e saberes dos mais diversos lugares do Brasil.

O impulso da criação deste espaço coletivo dentro da FEWB vem não apenas da necessidade das escolas Waldorfs de todo o Brasil se saberem e se conhecerem em suas diversidades, como também da necessidade da própria FEWB fomentar pontes para que possamos estar cada vez mais no mundo por nós mesmos. Sendo assim, ressaltamos a intenção de:

• Manter esse canal de franco e aberto debate a respeito dos múltiplos atores que fundamentam nossa sociedade e da educação nacional em relação às escolas Waldorf, a fim de fomentar ações transformadoras e equânimes;

• Mapear e referenciar os grupos que discutam e atuam em temáticas afins em diálogo com a Antroposofia;

• Acolher e ampliar as diferentes vozes, cores, sabores, ritmos, cantigas, histórias, repertórios;

• Tomar consciência do que fazemos, como fazemos e o porquê fazemos;


E o que isso quer dizer?

A Pedagogia Waldorf, nascida em Stuttgart, completou 100 anos de existência em 2019. Aterrou no Brasil em 1956, trazida por braços alemães e, desde sua chegada, essa arte pedagógica vem transformando a vida de muitos jovens e crianças, bem como das comunidades que escolhem carregar seus ideais na direção de um bem comum.

Herbert Han, na publicação O nascimento da Escola Waldorf a partir dos impulsos da trimembração do organismo social (2007), registra: "Rudolf Steiner, ao fundar a Livre Escola Waldorf, não teve a intenção de acrescentar mais uma escola às boas escolas particulares com projetos pedagógicos inovadores já existentes na Europa Central. O seu objetivo era construir uma verdadeira pedagogia do povo (educação popular) que abrangeria a sociedade como um todo" (p.35). O objetivo de Rudolf Steiner era ligar também a vida cultural e a pedagogia às forças progressistas de sua época, considerando a natureza trimembrada do ser humano (corpo, alma e espírito), que fundamentam as leis da estrutura institucional, social e pedagógica da escola Waldorf.

Identificamos como princípios inerentes a esta pedagogia reconhecer, cuidar e respeitar a Terra como organismo vivo; compartilhar seus frutos com todos de maneira fraterna; exercer no mundo uma consciência plena de igualdade de direitos, estabelecendo relações de respeito mútuo, livres de qualquer preconceito de gênero, classe social, raça, orientação sexual ou religiosa; honrar a ancestralidade, conhecer nossa biografia enquanto povo e indivíduos, onde cada um importa verdadeiramente.

Reconhecer a trajetória da Pedagogia Waldorf no Brasil nos permite tomar consciência dos processos que construíram a realidade e as práticas das escolas Waldorf brasileiras até aqui, diferenciando o que sejam princípios e valores da Pedagogia Waldorf, do que seja a roupagem europeia. Agradecemos aos pioneiros da Pedagogia Waldorf no Brasil e reconhecemos todo esforço de aprofundar-se nela e fazê-la viver nestas terras. Tomamos agora esse esforço de maneira nomeadamente coletiva, a fim de pesquisar em profundidade nossa diversidade identitária e contribuir para o enraizamento e desabrochar nestas terras.

E como fazê-lo?

Para tanto, partimos do princípio de que a criança cresce a partir de 3 âmbitos: sua individualidade, a linha hereditária a qual pertence e o ambiente onde vive. Todo ambiente, além de natural, é permeado de cultura. Assim, a criança, desde o ventre materno é cercada pela língua que a mãe fala e, ao nascer, é embalada pelas cantigas de ninar de seu povo. Seu quarto, sua casa, serão constituídos pelos elementos disponíveis e/ou importantes para os adultos que a cercam e, assim, ela cresce imersa nesse ambiente cultural.

Segundo Lievegoed (1994), "Não é por acaso que um indivíduo nasce em determinado povo. O nascimento proporciona ao Eu a oportunidade de seguir seu caminho dentro do envoltório espiritual desse povo. Estando este ponto de partida claramente delineado, o eu, protegido pela entidade de seu povo, compreenderá mais facilmente outros povos". Sendo assim, podemos dizer que é o princípio da alteridade que ampara nossa condição humana, ou seja, só podemos existir enquanto seres humanos a partir do reconhecimento do outro.

Cada faixa etária tem suas particularidades expressas nas leis pedagógicas e há um longo processo entre o ventre materno, o pisar firme na terra e a conquista autônoma do jovem. É nesta trajetória que o ser humano constrói sua visão de mundo, sua identidade e busca seus ideais para trilhar seu destino em liberdade. Ele o faz a partir do ambiente cultural que o cerca e das experiências que vive.

"Os corpos humanos são enlaçados pela linguagem, antes de tudo.
Só existe o corpo sobre o qual se diz.
São esses os nós que nos enlaçam, nos quais tropeçamos ou ficamos enredados.
Somos feitos de histórias que precisam ser contadas de novo, e de novo, e de novo,
para que o novo possa advir."
IACONELLI, Vera

E enquanto povo, qual é a nossa identidade? Quem somos como sociedade brasileira?

Uma fotografia: 56,1% da população se autodeclara negra (IBGE); dos 13,5 milhões vivendo em extrema pobreza, 75% são pretos ou pardos (IBGE); no último Censo Demográfico (2010) dos 195,7 milhões de pessoas apenas 896 mil se consideram indígenas, o que corresponde a menos de 0,5% da população brasileira.

Consideremos a importância da "História do Brasil" dar espaço às muitas histórias reais que a compõem, no intuito de integra-las e difundi-las, reconhecendo nosso passado, Pindorama, e as decorrências da escravização e da colonização. A fim de entender o presente e sua estruturação social racista, preconceituosa, elitista, classista, patriarcal, machista dentro de estruturas majoritariamente oligárquicas, contratualistas e extrativistas, intencionamos construir um futuro que possamos nos reconhecer a todos em nossa dignidade humana. Nesse sentido, educar significa também encarar a partir da própria organização escolar os principais desafios da sociedade atual.

"Quando não sabemos quem fomos, não sabemos quem somos, portanto, não sabemos para onde estamos indo... Muitas vezes, quando nos esquecemos para onde estamos indo, devemos voltar da onde começamos" (Sotigui Kouyatê – Griô / Mestre da Tradição Oral de Burkina Faso) Com toda a complexidade dos fatos históricos que compõem nossa identidade, vemos que nossa terra foi e continua sendo um solo fértil e fecundo, onde um mar de relíquias se revela em um organismo de tradições vivas, constituindo patrimônio cultural, material e imaterial brasileiro.

Entendendo essa realidade, identificamos as seguintes ações a serem realizadas, sempre em consonância com a antropologia antroposófica:

• Revisão institucional das práticas/'currículos' das escolas Waldorfs, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, no intuito de despir o eurocentrismo;

• Atualização de conceitos primordiais que embasam a formação de professores, em relação a questões contemporâneas;

• Criação de espaços circulares dedicado às sabedorias e protagonismo de intelectuais/lideranças dos diversos movimentos culturais e políticos contemporâneos em ressonância com a Pedagogia Waldorf;

• Plataforma virtual atuante construída colaborativamente com materiais de pesquisa, produção e referência em diferentes formatos: vídeos, livros, imagens, músicas, relatos de propostas pedagógicas desenvolvidas por professores, etc.

• Expansão de grupos de estudos e processos de aprendizagens (cursos) que fomentem diálogos, reflexões, práticas e aprofundamentos temáticos culturais, étnico-raciais, de gênero, questões ambientais, alfabetizações temáticas.

• Publicações de cunho científico;

Acreditamos poder contribuir desta maneira com a atuação das comunidades pedagógicas frente a nossa formação identitária, tendo sempre em vista a antropologia antroposófica e carregando o ideal pedagógico do cultivo do "bom, do belo e do verdadeiro", "cabeça, coração, mãos".

Sendo assim, propomos encontros para trocas e conversas, bem como parcerias com os grupos que já desenvolvem esses temas em sua comunidade. Como FEWB, gostaríamos de ter representantes de todos os grupos e regiões do Brasil para nos organizarmos e trocarmos entre nós, criando uma rede de escolas/iniciativas como células de pesquisa de nossa identidade brasileira compondo a diversidade potente do organismo Pedagogia Waldorf no Brasil.

Esta página quer dar espaço para acolher esses movimentos e divulgá-los aqui.
Entre em contato conosco para tornarmos essa possibilidade viável.
Nosso email: fewb@fewb.org.br
Divulgaremos em breve nosso calendário de encontros bimestrais para estudo e troca entre todos os interessados.

Luciana Sapia, Glauce Kalish, Gabriela Francheschinelli e Cristina Velasquez

MOVIMENTOS PARCEIROS

COLETIVOS EM ESCOLAS WALDORF

ARTIGOS

Artigo: "Las fiestas brasileñas y el ciclo del año"

Por Glauce Kalisch, Ilustrações de Silvia Jensen
IASWECE - Maio 2021